sexta-feira, 13 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

03- Buon giorno

O casal andava pelas ruas da bela cidade. O ar antigo e romântico de Veneza fazia da menina a pessoa mais feliz do mundo. Philippe vestia aquelas roupas informais, porém arrumadas, típicas de grife o que fazia jus a sua aparência de homem bem sucedido. Alice havia trocado a camisa branca do marido por um vestido curto azul marinho e um chapéu redondo branco, para protegê-la do sol. Formavam um belo e sorridente casal.
Era época do carnaval italiano e milhares de pessoas estavam pelas ruelas para festejar o evento popular. Era bem diferente do brasileiro, Alice ficou fascinada pelas roupas de seda e máscaras geralmente brancas, como as dos nobres de antigamente.
- Agora já posso morrer, esse é o momento mais feliz da minha vida, Ali. – Philippe finalmente disse algo enquanto os dois andavam abraçados.
Ela sorriu de volta e beijou a bochecha do homem. Realmente era tudo lindo: sol, água, italianos, máscaras, roupas, músicas, festa, Philippe, céu azul. Ela suspirou.
- Vamos tirar fotos, meu amor. – Ela sacou a máquina digital da bolsa transpassada. E bateu uma foto de perto que acabou cortando metade do rosto dele.
- Calma, vamos pedir para alguém. – Ele se encaminhou a um grupo de jovens e pediu, falando um italiano quase perfeito, que tirassem uma foto dos dois. Ela amava o fato de ele ser um poliglota.
Fizeram pose, como um casalzinho apaixonado, para uma menina branquela que fez o favor.
-Estas fantasias são lindas. – Alice admirou.
-Sim. Remetem aos tempos em que a nobreza saía às ruas e se disfarçava para poder se misturar no povo.
- Maravilhoso. Aqui é o paraíso! – Ela agarrou a figura alta de Philippe com força, beijando-o.
- Eu te amo – A menina disse enquanto seus lábios tocavam os dele.
- Je t’aime, Piaf. – Sorriu, pegando a máquina das mãos dela e sacando uma foto dos dois grudados.
Voltaram a andar de mãos dadas e Alice passou a sonhar como se vivesse na época em que o carnaval de Veneza começou. Imaginou-se filha de um nobre, proibida de sair de casa nas noites de festa pela cidade. Como prisioneira, resolveu disfarçar-se, como uma princesa forasteira, para encontrar seu grande amor. Sim, aquela cidade só transmita sentimentos assim. Não conseguia imaginar se poderia haver alguém infeliz em Veneza. Parecia impossível haver tristeza naquela paisagem tão bela.
- Vamos naquele petit café? – Philippe perguntou, apontando para um charmoso e pequeno restaurante.
- Sim.
Havia uma “banda” de instrumentos de sopro que tocavam na porta do café. O garçom veio atendê-los e acabou tirando muitas fotos para o casal, fazendo a vontade de Alice. Philippe pediu café e gostosuras italianas (não, não estou falando daqueles homens atraentes que viviam prolongando olhares para Alice, especialmente em direção a seus olhos). Comeram e se divertiram. Ela não poderia querer uma lua de mel mais feliz. Mesmo com seu jeito dramática de ser, durante aquela tarde toda, esqueceu-se da vida. Era somente feliz. E só o presente a interessava. Philippe a queria mesmo, amava-a. Por um lapso, ela chegou a pensar nele como um pai, diferente do que ela teve. Mas parou no mesmo segundo. Jurou nunca mais vê-lo desse modo, era nojento.
Já era noite quando voltaram ao hotel. Mas somente de madrugada quando foram realmente dormir.

domingo, 25 de outubro de 2009

02- I'm no good without you

Era um dia calmo para a maior parte da população naquela ilha na América central, cujo nome, Alice não era capaz de pronunciar, algo como Turk, a menina não sabia ao exato. O outro grande pedaço do povo, que não chegava a sua metade, provavelmente estava ocupado com os preparativos do casamento de um milionário francês.

Três moças admiravam o reflexo da imagem de Alice, já vestida, maquiada, com cabelo digno de filminhos “água com açúcar”, num espelho grande, dentro do melhor e mais caro hotel do lugar. Não era exatamente a simplicidade que ela desejava quando fosse se amarrar alguém, “até que a morte os separasse.”

- Linda. – Uma das moças finalmente disse algo.

Alice se admirou, estava realmente bem, apesar de seus 22 anos, ela parecia mais velha, por todos os cigarros que já havia fumado na vida. O vestido branco, curto, mostrava suas coxas que não eram exatamente de uma modelo. Ela odiava exibi-las, mas queria luzir jovial naquele vestidinho com renda na barra.

Pouco tempo depois, ela saía pela porta do hotel, em frente à praia antes deserta. Na verdade, não havia muitas pessoas íntimas de Ali presenciando o início do maior erro de sua vida. A maioria dos convidados, na verdade, eram conhecidos do noivo, homem influente e poderoso no ramo dos hotéis. Sabe como é tal política da boa vizinhança. A todas essas pessoas, Alice mostrava sua simpatia aparente, ao cumprimentá-las, como uma primeira dama educada.

Seus pais estavam presentes, assim como alguns poucos amigos, os mais próximos. Ela odiava festas e eventos pela obrigação de convidar certas pessoas. Desta vez, não se sentiu mal por omitir seu casamento para maior parte dos antigos conhecidos.

Enquanto caminhava em direção a Philippe, seu futuro marido, pensava em todos os que já haviam passado pelo posto de Sr. 'Alice'. Sorriu sem deixar os espectadores perceberem que o sorriso não era por estar caminhando em direção a sua alma gêmea. Ela era do tipo de pessoa que sonha acordada e ri dos próprios pensamentos, talvez viva num mundo só seu.

Havia um piano, um baixo acústico – instrumento de som mais inspirador para Alice – e um trompete no canto, acompanhados por uma voz jazzista e feminina, parecida com a de Billie Holiday, que davam um toque especial ao casamento. A música não era a marcha nupcial tradicional; Alice não queria: “absolutamente nada tradicional”, por isso a falta de madrinhas e padrinhos, de daminhas de honra, de ‘lenga lenga’ de padres católicos e dos sapatos de todos na praia. Philippe sorria com satisfação. “Ele já está acostumado com essa de se casar! Quantos já foram mesmo?” - Ela pensava ao caminhar calmamente.

Amava Philippe. Mesmo que de seu jeito próprio, amava-o. Não poderia viver sem seu carinho, amor, fora todo o conforto que era a vida junto a ele. Talvez fosse uma acomodação, um amor comprado, mas Alice não pensava assim. Gostava de amá-lo de verdade, de sentir seu coração palpitar mais forte quando a mão de seu futuro marido tocava em sua pele branca. Não possuía culpa por casar com alguém mais velho, sabia que estava seguindo seu coração.

Seus pés tocavam na areia fofa e ela sentia paz interior, como se estivesse resolvendo todos seus problemas naquela caminhada. Como se seu destino fosse o céu, como se partisse para uma vida nova.


sábado, 24 de outubro de 2009

01- Cartões Postais da Itália

“Não sei por onde começar. Talvez eu tenha errado. Errado em minha vida; feito simplesmente tudo de cabeça para baixo. Talvez se eu tivesse ouvido minha mãe... É... Talvez, talvez, talvez...”
O sol nascia iluminando o céu azul de Veneza. As poucas nuvens davam um toque especial naquela imensidão turquesa. Numa das varandas de uma construção baixa, de coloração branca e recente, combinando co
m todos os bonitos prédios da cidade, uma menina de cabelos negros e compridos admirava o nascer do astro rei, que luzia junto à água cristalina, onde havia uma gôndola. Seus olhos claros, quase fechados de sono, estavam entretidos com o remar do homem de camisa listrada na 'canoa' típica italiana.
A brisa agradável da manhã embalava suas madeixas e a blusona larga sobre a calcinha nova, comprada especialmente para a ocasião, deixando-a com um 'quê' de Marilyn Monroe, de certa forma, apreciado pela garota.
Algumas gaivotas visitavam o pequeno telhado acima de sua cabeça. Ela adorava se distrair com a bela paisagem; chegou a desejar que aquele momento durasse para sempre, quando não teria que enfrentar as pessoas, as decisões, a vida. Seriam apenas as gaivotas, o homem da gôndola e ela própria. Riu sozinha ao pensar na idéia de um desconhecido ser mais atraente que sua vida real, aquela fora de todos os sonhos e devaneios.
“O meu problema é sempre fugir da vida. É me esconder, matar as aulas, mudar no meio do caminho, desistir das pessoas, dos amores.”
- Bom dia, Alice. Oh, como o dia está lindo, meu amor. – Uma voz masculina e sonolenta interrompeu os pensamentos dela. Sorriu e olhou amavelmente para o simpático cavalheiro que saía do quarto, ainda de pijamas, espreguiçando-se.
- É, adoro o vento da manhã. – Ela finalmente deixou de encará-lo. – Ele me faz querer voar e acreditar que realmente posso fazê-lo. – Voltou-se para a paisagem, desprezando o homem.
- Só não vá voar para longe de mim, '
piaf'. – Alice amava quando ele incorporava palavras francesas às suas conversas. Devia fazer isso sem perceber, pois ainda não estava tão habituado a não falar francês. Ao dizê-lo, o homem aproximou-se da menina, apoiada na grade da varanda.
- Philippe, vamos sair pela cidade? – Docemente, ela passou uma das mãos no cabelo curto, levemente grisalho do homem que a segurava pela cintura.
- Claro, o que você quiser. – Por um momento ela esqueceu todos os acontecimentos que a haviam levado até ali; divagou.
- Afinal, é nossa lua-de-mel... – Ele continuou a falar, sorrindo. Foi quando Alice acordou num estalo.
“É verdade! Lua de mel... Lua de mel... Em Veneza... Sim, meu sonho sempre foi casamento na praia, ao por do sol com direito a pés na areia e vestidinho fresco. Casamento por amor, com o amor da minha vida!”
- É... – Alice respondeu pensativa, forjando um sorriso bobo enquanto seus olhos acompanhavam o homem da gôndola.